domingo, 10 de setembro de 2017

Papa Francisco: “é uma bobagem dizer que não se pode usar crucifixo no pescoço”


Inédito: Papa fala sobre castidade, união homossexual, tradicionalismos, laicidade e abusos cometidos por sacerdotes. As declarações estão em um livro, que será lançado na França

O livro-entrevista com o Papa Francisco, que logo será publicado na França, aborda temas como a castidade de sacerdotes e religiosos, o sentido da laicidade, os abusos sexuais cometidos por sacerdotes, a questão do “matrimônio” homossexual e a ideologia de certos católicos tradicionalistas.
Traduzimos alguns trechos que provocam parte da grande expectativa gerada pelo livro “Política e sociedade” escrito pelo sociólogo francês Dominique Wolton. Os excertos foram adiantados com exclusividade pela revista de fim de semana do diário parisiense “Le Figaro”.
 “Escolher o caminho da castidade”
– Papa Francisco: renunciar à sexualidade e escolher o caminho da castidade ou da virgindade comportam toda uma vida de consagração. Qual é a condição sem a qual este caminho fenece? Que este caminho leve a paternidade ou a maternidade espiritual.
Os sacerdotes “solteiros” e as religiosas “solteiras” são alguns dos males da Igreja, pois eles estão cheios de amargura. Por outro lado, os que alcançaram essa paternidade espiritual, seja através da paróquia, da escola, ou do hospital, estão bem… O mesmo acontece com as religiosas, pois são “mães” […] É uma renúncia voluntária.
A virgindade, seja masculina ou feminina, é uma tradição monástica anterior ao catolicismo. É uma busca humana: renunciar para buscar a Deus em sua origem, através da contemplação. Mas essa renúncia deve ser uma renúncia fecunda, que conserva uma espécie de fecundidade diferente da fecundidade carnal, da fecundidade sexual. Inclusive, na Igreja, há sacerdotes casados. Há sacerdotes orientais casados. Mas a renúncia ao matrimônio em nome do Reino de Deus é um valor em si mesmo. Isso significa renunciar para colocar-se em serviço, para contemplar melhor.
Se o sacerdote é um abusador, ele está doente”
– Papa Francisco: antes, mudava-se o sacerdote. Mas o problema se mudava com ele. A política atual é a que Bento XVI e eu temos aplicado através da Comissão de Defesa dos Menores, criada há dois anos aqui no Vaticano. Defesa de todos os menores. Trata-se de tomar consciência do problema. A Igreja-Mãe ensina como prevenir, como falar com uma criança, permitir que ela diga a verdade aos pais, que conte o que aconteceu.
É um caminho edificante. A Igreja não deve assumir uma posição defensiva. Se o sacerdote é um abusador, ele está doente. Dois em cada quadro abusadores foram abusados quando crianças. São as estatísticas dos psiquiatras.
 “O matrimônio é um homem e uma mulher”
– Papa Francisco: O “matrimônio” é uma palavra histórica. Desde sempre, na humanidade, não somente na Igreja, é um homem e uma mulher. Não é possível mudar […] É parte da natureza. É assim. Lamentamos, então, as “uniões civis”. Não brinquemos com as verdades.
É verdade que, por trás disso, está a ideologia de gênero. Nos livros, as crianças aprendem que é possível mudar de sexo. O gênero – ser mulher ou homem – seria uma opção e não obra da natureza? Isso favorece o erro.Mas vamos dar nome às coisas: o matrimônio é um homem com uma mulher. Esse é o termo preciso. Chamemos a união do mesmo sexo de “união civil”.
 “Ideologia tradicionalista”
– Papa Francisco: como a tradição cresce? Cresce como cresce uma pessoa: com o diálogo, como acontece com a criança quando ela é amamentada. O diálogo com o mundo que nos rodeia. O diálogo faz crescer. Se não dialogamos, não podemos crescer, ficamos fechados, pequenos, anões. […] Tenho que ver e dialogar. O diálogo permite crescer, e faz crescer a tradição. Ao dialogar e ao ouvir outra opinião, posso mudar meu ponto de vista, como no caso da pena de morte, da tortura, da escravidão. Sem mudar a doutrina. A doutrina cresceu com a compreensão. Essa é a base da tradição […].
Por outro lado, a ideologia tradicionalista tem uma fé assim: a bênção deve ser transmitida assim, durante a Missa, os dedos devem estar assim, com luvas, como era antes. O que o Vaticano II fez com liturgia foi verdadeiramente algo grande, pois abriu o culto a Deus para o povo. Agora, o povo participa.
 “As religiões não são subculturas”
– Papa Francisco: O Estado laico é algo saudável. Há uma laicidade saudável. Jesus disse: “dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”. Todos são iguais perante a Deus. Mas creio que, em alguns países, como a França, esta laicidade tem um tom herdado do Iluminismo que é muito forte, gera um imaginário coletivo em que as religiões são vistas como uma subcultura. Creio que a França – é minha opinião pessoal, não é a opinião oficial da Igreja – deveria elevar um pouco o nível da laicidade, no sentido que deveria dizer que as religiões também fazem parte da cultura. […] Compreendo esta herança da História, mas é preciso fazer o trabalho de ampliação. Há governos, cristãos ou não, que não admitem a laicidade.
É uma bobagem dizer que não se pode usar crucifixo no pescoço ou que as mulheres não devem usar isso ou aquilo. Pois tanto uma quanto outra atitude representam uma cultura. Uns usam crucifixo, outros usam outra coisa, o rabino usa a quipá, o papa o solidéu (risos). Essa é a laicidade saudável!
O Concílio Vaticano II explica bem isso, com muita clareza. Creio que fazem exageros sobre algumas questões, em particular quando a laicidade é colocada por cima das religiões. Então, as religiões não fazem parte da cultura? São subculturas?

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