quarta-feira, 4 de maio de 2016

Quarto dia de meditação do mês de Maria





Maria é nossa Mãe espiritual

Não é sem motivo e sem boa razão que os servos de Maria a chamam de Mãe. Parece até que não sabem invocá-la com outro nome, nem se fartam de sempre lhe chamar de Mãe, não carnal, mas espiritual, das nossas almas e da nossa salvação.

O pecado, quando privou a nossa alma da divina graça, a privou também da vida. Estávamos, pois, miseravelmente mortos, quando veio Jesus, nosso Redentor, com excessiva misericórdia e amor, restituiu-nos a vida pela sua morte na cruz. Ele mesmo o declarou: Eu vim para elas (as ovelhas) terem vida, e para a terem em maior abundância (Jo 10,10).

“Em maior abundância”, porque, dizem os teólogos, Jesus Cristo com a redenção trouxe-nos maior bem, do que Adão mal nos causou com o seu pecado. Assim, reconciliando-nos ele com Deus, se fez Pai das almas na nova Lei da graça como já estava profetizado por Isaías ao chamá-lo de “Pai do futuro e príncipe da paz” (Is 9,6). Mas, se Jesus é pai de nossas almas, Maria é Mãe. Pois em nos dando Jesus, deu-nos ela a verdadeira vida. Em seguida proporcionou-nos a vida da divina graça, quando ofereceu no Calvário a vida do Filho pela nossa salvação. Em duas diferentes ocasiões tornou-se, portanto, Maria nossa Mãe espiritual, como ensinam os Santos Padres.

Primeiramente, quando mereceu conceber no seu ventre virginal o Filho de Deus, conforme diz S. Alberto Magno. E mais distintamente nos adverte S. Bernardino de Sena com as palavras: Quando a Santíssima Virgem deu à anunciação do Anjo seu consentimento, pediu a Deus vigorosamente a nossa salvação; e de tal modo a procurou, que desde então nos trouxe nas suas entranhas como Mãe amorosíssima.

Falando do nascimento do Salvador, diz S. Lucas que Maria deu à luz o seu Filho primogênito (Lc 2,7). Logo, observa certo autor, se o evangelista afirma que então a Virgem deu à luz o primogênito, deve-se supor que depois teve outros filhos? Mas é de fé, continua o mesmo autor, que Maria não teve outros filhos carnais além de Jesus. Deve, por conseguinte, ser Mãe de filhos espirituais e esses somos nós todos. Isto mesmo revelou o Senhor a S. Gertrudes.

Depois de ler um dia a citada passagem do Evangelho, ficou a santa completamente perturbada.não podia entender como sendo Maria Mãe somente de Jesus Cristo se pudesse dizer que ele foi o seu primogênito. E Deus lho explicou, dizendo-lhe que Jesus foi o seu primogênito segundo a carne: mas que os homens foram os outros filhos seus, segundo o espírito.

E com esta explicação se entende o que se diz de Maria nos Sagrados Cânticos: “O teu seio é como um monte de trigo, cercado de açucenas” (7,2). O que explica S. Ambrósio, dizendo: No seio puríssimo de Maria havia um só grãozinho de trigo, que era Jesus Cristo. Não obstante, é ele comparado a um monte de trigo, porque naquele grãozinho estavam todos os eleitos, dos quais Maria também havia de ser Mãe. Por este motivo escreve S. Guilherme, abade: Maria, dando à luz Jesus que é nosso Salvador e nossa vida, nos fez nascer a todos nós para a salvação e para a vida.

Pela segunda vez Maria nos gerou para a graça, quando no Calvário ofereceu ao Eterno Pai, por entre muitos sofrimentos, a vida de seu amado Filho pela nossa salvação. Porque ela então cooperou com o seu amor para que os fiéis nascessem para a vida da graça, por isso mesmo, segundo S. Agostinho, veio a ser Mãe espiritual de todos nós, que somos membros da nossa cabeça, Jesus Cristo. Isto é precisamente o que se diz da Bem-aventurada Virgem nos Sagrados Cânticos: “Eles (meus irmãos) me puseram por guarda nas vinhas. Eu não guardei a minha vinha” (1,5). Maria, para salvar as nossas almas, sacrificou com amor a vida de seu Filho. Ou, como diz Guilherme, abade: Imolou a sua alma para a salvação de muitas almas. E quem era a alma de Maria, senão o seu Jesus, o qual era a sua vida e o seu amor? Por isso lhe anunciou Simeão que a sua alma bendita havia de ser traspassada com uma espada (Lc 2,36). Falou da lança que traspassou o lado de Jesus, que era a alma de Maria. E então ela com as suas dores nos proporcionou a vida eterna. Por isso todos podemos chamar-nos filhos das dores de Maria.

Esta nossa amorosíssima Mãe sempre esteve toda unida à vontade de Deus. Assim viu o quanto o Eterno Pai amava os homens, observa S. Boaventura: conheceu também sua vontade de entregar o próprio Filho à morte pela nossa salvação: soube do amor do Filho em querer morrer por nós. Para conformar-se com este amor do Pai e do Filho para com o gênero humano, ela também com toda a sua vontade ofereceu e consentiu que o seu Filho morresse, a fim de que fôssemos salvos.

Verdade é que Jesus quis ser o único a morrer pela redenção do gênero humano. “Eu calquei o lagar sozinho” (Is 63,3). Mas viu como Maria desejava ardentemente tomar parte na salvação dos homens. Decidiu então que ela, com o sacrifício e a oferta da vida do seu mesmo Jesus, cooperasse para nossa salvação, e deste modo viesse a ser Mãe de nossas almas. E isto quis dizer o nosso Salvador, quando, antes de expirar, olhando da cruz para sua Mãe e para o discípulo S. João, que estavam aos lados dele, primeiramente disse a Maria: Eis o teu Filho! (Jo 19, 26). Queria dizer-lhe: Eis aqui o homem que, pela oferta que fazes da minha vida pela salvação, já nasce para a graça. E depois, voltando-se para o discípulo, lhe disse: Eis tua Mãe! (Jo 19, 27). Com tais palavras, disse S. Bernardino de Sena, Maria foi feita Mãe, não só de S. João, mas também de todos os homens, por causa do amor que teve para com eles. No parecer de Silveira, é este o motivo por que S. João, ao consignar a cena do seu Evangelho, escreve: Em seguida disse ao discípulo: Eis a tua Mãe! Note-se que Jesus Cristo não disse isto a João, mas ao discípulo. Fê-lo para significar que o Salvador nomeou Maria por Mãe universal de todos aqueles que, sendo cristãos, têm o nome de seus discípulos.

ORAÇÃO

Como é possível, ó Maria, minha Mãe Santíssima, que, tendo uma Mãe tão santa, tenha eu sito tão mau? Uma Mãe que toda arde no amor para com Deus, e eu ame as criaturas? Uma Mãe tão rica de virtudes, e que delas seja eu tão pobre? Ó Mãe amabilíssima, já não mereço, é verdade, ser o vosso filho, porque de o ser me tenho feito indigno com as minhas culpas. Contento-me, pois, com que me aceiteis por vosso servo. Para ser o último de vossos servos, pronto estaria a renunciar a todos os reinos da terra. Sim, com este favor me contento. Entretanto, não me recuseis o de vos chamar também minha Mãe. Este nome consola-me, enternece-me, recorda-me o quanto sou obrigado a vos amar. Inspirai-me também grande confiança em vós. Quando a lembrança dos meus pecados e da justiça divina me enche de terror, sinto-me reanimado ao pensar que sois minha Mãe. Permiti que vos chame minha Mãe, minha Mãe amabilíssima. Assim vos chamo e assim quero sempre chamar-vos. Vós, depois de Deus, haveis de ser sempre a minha esperança, o meu refúgio e o meu amor neste vale de lágrimas. Assim espero morrer, entregando naquele último instante a minha alma nas vossas santas mãos, e dizendo: Minha Mãe, minha Mãe, ajudai-me, tende piedade de mim. Amém.

Trecho da meditação é retirada do livro “Glórias de Maria”, de Santo Afonso de Ligório.

Capítulo I, explicação da Salve Rainha – As abundantes e numerosas graças dispensadas pela Mãe de Deus aos que a servem devotamente.

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