terça-feira, 12 de março de 2013

Meditação do Rosário V

Os mistérios gloriosos

Cônego Henrique Soares da Costa
Para começar, é importante compreender que todos os cinco mistérios gloriosos nada mais são que aspectos da ressurreição de Cristo; são como que efeitos e manifestações da glória do Cristo ressuscitado.
1. A Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo
Leitura: Mt 28,1-8; Mc 16,1-8; Lc 24,1-10; Jo 20,1-10
A primeira coisa a contemplar-se aqui é o próprio acontecimento em si: o Pai, na madrugada do primeiro dia após o sábado dos judeus, iniciou um novo tempo para a humanidade: ele derramou o seu Espírito Santo sobre o corpo e a alma de Jesus. Seu corpo estava no túmulo e sua alma, na mansão dos mortos, isto é, naquele estado de espera em que se encontrava toda a humanidade. Assim, em corpo e alma Jesus foi totalmente impregnado pelo Espírito Santo, totalmente transfigurado e divinizado na sua natureza humana (corpo e alma) igual à nossa. Ele agora é, mais que nunca, todo do Pai, todo com o Pai, todo na glória do Pai. Contemplar a ressurreição é enxergar desde já qual é o destino de nossa humanidade, de nosso corpo e de nossa alma!
O fato da ressurreição do Senhor faz-nos admirar a absoluta fidelidade do Pai, que nunca abandona quem a ele se confia. Na paixão parecia que o Pai ignorava o Filho, tinha-o abandonado... Mas, não: Deus o glorificou de um modo total, pleno, definitivo e eterno! Se Deus corrige, também salva; se fere, cura a ferida; se deixa morrer também ressuscita... A última palavra do Pai para o seu amado Filho não é a humilhação ou a morte, mas a vida e a ressurreição.
Dito isso, podemos contemplar a glória na qual Jesus se encontra. Aquele que vimos humilhado, estraçalhado pela dor, o sofrimento e a morte, agora vemo-lo totalmente glorificado e triunfante: “Eu sou o Primeiro e o Último, o vivente; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos, e tenho as chaves da Norte e do Hades” (Ap 1,17b-18). Agora o Senhor já não mais pertence a este nosso mundo, com suas sombras e dores. Ele entrou num estado de vida definitiva: seu corpo e sua alma estão totalmente transfigurados. Ele já não sofre, não é tocado por privações, dores nem muito menos pela morte! As dimensões de tempo e espaço, as propriedades de nosso mundo material assim como o conhecemos já não têm nenhum efeito ou poder sobre Jesus. Ele, agora, é o Homem pleno, o homem perfeito, o Homem como Deus nos imaginou desde toda a eternidade! Jesus glorificado, é portanto, o nosso Destino, o nosso Modelo, a nossa Finalidade!
Ele, cheio do Espírito Santo, que é o Senhor e Doador da Vida, derrama este Espírito já pelos sacramentos e derramará, um dia, de modo pleno, sobre todos e cada um de nós e sobre toda a criação. É no Espírito de Cristo glorificado que nós mesmos e o universo inteiro seremos transfigurados na glória da eternidade. Então, a ressurreição de Jesus é a causa da nossa ressurreição e a sua glória é o início da nossa glorificação!
2. A Ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo
Leitura: Mc 16,19-20; Lc 24,50-52; At 1,6-11
Antes de tudo, compreendamos o que significa a Ascensão: pela Ressurreição, Jesus foi glorificado em todo o seu ser. Mas, esta sua glória tem efeitos naquilo que Jesus representa para nós e para toda a criação. É este o mistério da Ascensão. Ele não somente foi glorificado, mas está à Direita do Pai (isto é, tem o mesmo poder do Pai, participa plenamente da autoridade do Pai sobre todas as coisas, sobre o mundo visível e invisível). Assim, ele é primeiramente Senhor da Igreja que, graças à ação do seu Espírito Santo, é o seu Corpo. Do céu, de modo incessante, o Filho glorioso vivifica a sua Igreja com a energia do Santo Espírito, dada sobretudo na celebração dos sacramentos. Então, seu primeiro senhorio glorioso se exerce sobre sua Igreja. Mas, não só: Cristo, glorificado, “sentado à Direita do Pai”, é Senhor de toda a criação, de todo o cosmo, dos anjos e dos homens; é também o Senhor do tempo e da eternidade e, portanto, Senhor da história humana. Aconteça o que acontecer no longo caminho da humanidade, tudo vai terminar diante de Cristo glorificado, como os rios terminam no mar! Assim, falar na Ascensão do Senhor, é também afirmar que ele é Juiz de tudo, Juiz dos vivos e dos mortos, Juiz de cada um de nós e também Juiz pleno e soberano de toda a história humana. Tudo será iluminado por ele: o que foi sinal e abertura para o seu reinado será transfigurado no Reino do Pai; o que não foi abertura e sinal do Reino que ele anunciou e inaugurou também não terá lugar no Reino de Deus por toda a eternidade!
Assim sendo, este mistério nos ensina ao abandono confiante nas mãos do nosso Senhor e Salvador. Aconteça o que acontecer conosco, venha o que vier na vida, poderemos olhar para Aquele que está no céu, humano como nós, glorioso como o Pai, vivificante como o Espírito, e podemos nos colocar em suas mãos benditas, podemos dizer: Senhor tu sabes tudo, tu podes tudo, para ti tudo se dirige! Senhor, eu me coloco em tuas mãos benditas, ó Cristo, nosso Deus e nosso Irmão! Em ti eu encontro a paz! Por que tenho medo, se nada mais é impossível para ti? Por que sinto tristeza, se nada mais foge de tuas mãos? Tu venceste a morte e nada mais é impossível para ti! No teu Espírito Santo tu estás entre nós e nada, nada é impossível para ti! Só tu és o Santo, só tu, o Senhor, só tu, o Altíssimo, Jesus Cristo, com o Espírito Santo na glória de Deus Pai!
3. A vinda do Espírito Santo sobre os Apóstolos e toda a Igreja
Leitura: At 2,1-41
Primeiro detenhamos sobre o evento salvífico em si, isto é, aquilo que o Senhor realizou para nossa salvação. Cinqüenta dias após a festa da Páscoa judaica, na qual Jesus havia morrido e ressuscitado, os judeus celebravam o Pentecostes. Esta celebração era antiga e tinha para os judeus um rico significado: recordava o dom da Lei, que Israel recebera ao pé do Sinai, cinqüenta dias após deixar o Egito; era também a festa das primícias, pois coincidia com o início da colheita do trigo, que era oferecido ao Senhor como primícias. Para a festa vinham judeus não somente residentes na Terra Santa, mas também aqueles espalhados pelo Império Romano, a grande maioria dos quais não sabia falar o aramaico, que se falava na Palestina. Foi, portanto, durante esta festa que o Espírito Santo, derramado de junto do Pai por parte de Jesus, caiu sobre os Doze, que simbolizavam naquele momento toa a Igreja. Eles, então tiveram uma impressionante experiência sensível: experimentaram no coração o consolo do Cristo ressuscitado, a coragem de proclamar com força a vitória e a salvação que Jesus nos adquiriu e tal experiência, manifestava-se num fato admirável: a pregação de Pedro, o Chefe da Igreja nascente, era compreendida por todos, cada qual na sua língua. A confusão iniciada em Babel, pelo orgulho humano, que desejava soberbamente subir até Deus, agora estava terminada pelo Dom de Deus, o Espírito, que misericordiosamente descia até o homem, enviado por Jesus! O sacrílego orgulho humano gerou e gera somente confusão; a misericórdia salvífica de Deus gerou e gera unidade e comunhão.
Agora, com o Pentecostes, fica claro aquilo que o Evangelho de São João já tinha mostrado desde a tarde do Domingo de Páscoa: que o Espírito do Ressuscitado estaria para sempre conosco, dando-nos vida nova, concedendo eficácia aos sacramentos e guiando-nos na missão de testemunhar Jesus (cf. Jo 20,19-23).
A partir do que ficou dito, avancemos na nossa contemplação:
(1) O Espírito é a nova Lei da nova e eterna aliança: Ele é Espírito de Amor, é o Amor pessoal entre o Pai e o Filho: “Como o Pai me amou (no Espírito), eu também vos amei (dando o Espírito). Permanecei no meu amor (no meu Espírito)” (Jo 15,9); “O amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito que nos foi dado” (Rm 5,5). Assim “quem ama cumpriu a Lei porque o amor é a plenitude da Lei” (Rm 13,8.10). Era isso que os profetas haviam anunciado uma nova aliança no Espírito; e essa Aliança nova e eterna, nascida da páscoa do Cristo , permanecerá para sempre na potência do Santo Espírito como aliança de amor.
(2) É isto também que significa que a Antiga Aliança, que estava expressa em preceitos, era uma aliança segundo a carne: era necessário ser judeu para dela participar. Agora, a Nova Aliança é no Espírito, porque a nova Lei é o próprio Espírito que em nós dá testemunho do senhorio de Jesus e da paternidade de Deus, inspirando-nos e impelindo no amor.
(3) Sendo a festa das primícias, o Pentecostes deixa claro que o Espírito Santo é a primícia (o primeiro fruto) da Páscoa do Senhor: a paixão, morte e ressurreição de Jesus nos obteve como dom o Espírito Santo!
(4) Agora, o Espírito vai guiando a Igreja no aprofundamento do conhecimento de Cristo e do seu mistério (por isso, a Igreja crescerá sempre na compreensão das verdades reveladas até que Cristo venha, pois o Espírito a conduzirá sempre à verdade plena); vai cada vez mais tornando-a mais santa pelos sacramentos no qual ele age tornando Cristo presente, vai sustentando a Igreja na missão de testemunhar Jesus pela palavra, pela vida de santidade dos seus filhos e, sobretudo pelo martírio. Então, deixar-se conduzir pelo Espírito é abrir-se à missão de viver e testemunhar Jesus onde estivermos!
(5) No Espírito, cumpre-se, finalmente, a promessa do Senhor, que tanto nos consola: “Eu estarei convosco todos os dias até o fim dos tempos!” (Mt 28,20).
4. A Assunção corporal da Virgem Maria ao Céu
Leitura: 2Tm 2,8.11-12a; Ap 12,1
Que nos diz este mistério? Que a Virgem Maria, assim que terminou seu caminho neste mundo, não ficou na morte, mas de um modo que só Deus conhece, foi elevada ao céu na glória de Cristo, em corpo e alma. Assim aquela que perfeitamente sofreu com Cristo, perfeitamente reina com Cristo; aquela que, ao pé da cruz, perfeitamente morreu com Cristo, perfeitamente vive com Cristo! (cf. 2Tm 2,8.11). Por isso mesmo, a Igreja vê nela aquela Mulher totalmente vestido do Cristo, que é o Sol verdadeiro, tendo já sob os pés a lua, que simboliza as realidades deste nosso mundo que passa, que muda como as fases da lua!
Que nos ensina este mistério? Primeiro nos mostra a força e a eficácia da Páscoa do Cristo: Ele não somente é glorioso, mas é também glorificante! Na potência do seu Santo Espírito, ele nos encherá de glória. É isto que já fez de modo pleno na Virgem Maria. Por isso mesmo, este mistério do rosário nada mais é que a contemplação dos efeitos da glória de Cristo em Maria Virgem. Nós, desde o nosso batismo, recebemos o Espírito de glória, que vai crescendo em nós pelos sacramentos, sobretudo pela eucaristia. Deste modo, assim que morremos, somos glorificados de modo pleno na nossa alma e, no fim dos tempos, também nosso corpo será glorificado. Pois bem, na Virgem Maria, pela sua santa e imaculada conceição e pela perfeita união ao Cristo morto e ressuscitado, ela foi glorificada em todo o seu ser – corpo e alma – imediatamente após a sua morte. Nela, a manifestação da glória de Cristo já é plena; nela, já aparece de modo pleno e radioso aquilo que todos nós ainda esperamos. Ela é a única que já se encontrada ressuscitada também no seu corpo. Todos os outros santos esperam ainda a ressurreição da carne, mesmo se já estão na glória do céu com suas almas...
Notemos que este mistério só faz ressaltar o poder e a glória do Cristo, o Glorificante, aquele que nos enche da sua santa e eterna glória. É por isso que não se diz que a Virgem Maria teve uma ascensão (pois não foi ela própria que se elevou ao céu), mas uma assunção (ela foi elevada na glória do seu Filho. E esta glória é o próprio Santo Espírito, que é Senhor e Vivificador).
Deste modo, a Igreja e cada um de nós podemos olhar a Virgem como um claríssimo sinal de santa esperança, pois onde ela agora está, nós todos estaremos um dia, no Dia de Cristo, totalmente transfigurados nele. Por isso, sigamos o conselho de São Bernardo e, nas dores, incertezas e prantos da vida, invoquemos a Estrela, olhemos Maria, que já se encontra onde todos nós esperamos estar!
5. A coroação de Nossa Senhora no céu
Leitura: 2Tm 2,8.11-12a; Ap 12,1-2; Mt 2,11
Em geral este é o mistério menos compreendido de todo o rosário! Tem um sentido riquíssimo e, muitas vezes, ficamos em idéias superficiais, pensando que Nossa Senhora recebeu uma coroa em sua cabeça numa cerimônia determinada e, agora, manda em tudo. Nada disso é real, nada disso é o sentido deste mistério.
Primeiro: nunca esqueçamos que no Reino de Deus, reinar é servir! Dizer que Nossa Senhora é Rainha é afirmar que aquela que se designou e viveu como “a Serva do Senhor” (Lc 1,38) continua plenamente esse serviço, repetindo eternamente: “Fazei tudo o que ele vos disser!” (Jo 2,5). É assim que, Esposa do Espírito Santo, ela, imagem viva da Mãe Igreja, nos gera para Cristo em dores de parto (cf. Ap 12,2). Então, Maria é Rainha porque é Serva. Seu reinado não é fazer o que bem quer, mas querer somente a vontade do Senhor e nos ensinar a fazê-la plenamente, como ela mesma fez! Cumpre-se, portanto, a Palavra de Deus: se com Cristo sofrermos, com ele reinaremos (cf. 2Tm 2,12a). Aquela que morreu maternalmente de modo único e perfeito ao pé da cruz, agora reina maternalmente com o Senhor, no seu serviço real de nos ensinar, com seu exemplo e sua intercessão, a fazer sempre o que o Senhor quiser!
Mas, poderia alguém perguntar: como se pode chamar Nossa Senhora de Rainha, se ela não é esposa do Cristo-Rei? Ora, nas cortes do Oriente, não era a esposa do rei que tinha alguma autoridade e honra; era a mãe do rei, conhecida como ghebirá. Só para dar alguns exemplos, é interessante observar em 1Rs 1: quando Bersabéia é apenas esposa de Davi, prostra-se diante dele e chama-o de senhor; quando seu filho Salomão se torna rei, ela agora, como mãe do rei, tem outra autoridade: seu filho se prostra diante dela, conduz-la pela mão e assenta-a num trono ao lado do seu. É que agora ela era a ghebirá. Pode-se ver também que nos livros dos Reis, sempre que se dá o nome de um rei de Israel, indica-se o nome da rainha-mãe, a ghebirá...
Agora, contemplemos o que diz São Mateus: os magos chegam a Jerusalém, capital de Israel, vão ao palácio real e perguntam: “Onde está o Rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos sua estrela e viemos homenageá-lo” (Mt 2,2.). Pois bem, esses magos vão encontrar o reizinho recém-nascido. Escutemos o encontro, descrito pelo evangelho com o protocolo real: “Ao entrar na casa, viram o Menino com Maria, sua mãe, e prostrando-se o homenagearam” (Mt 2,11). Eles entram onde está o Rei e o encontram com a sua ghebirá! A Virgem é e será sempre rainha coroada com doze estrelas (cf. Ap 12,1). Doze é o número da Igreja e do antigo Israel. Nossa Senhora é rainha sim, porque serve perfeitamente, é a Mãe do Menino que nasceu para nós, do Filho que nos foi dado, e até o fim do mundo nos dará à luz Jesus, o seu menino, “o varão que irá reger todas as nações com um cetro de ferro” (Ap 12,5). Entremos, portanto, também nós: encontraremos sempre Jesus com Maria, sua Mãe; ajoelhemo-nos e adoremos para sempre o nosso bendito Salvador, a quem a honra e a glória, pelos séculos dos séculos. Amém.


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